Vírus zika acende sinal de alerta para microcefalia e síndrome de Guillain-Barré

Postado em Geral , no dia 15/03/2016 às 17:05

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 Vírus zika acende sinal de alerta para microcefalia e síndrome de Guillain-Barré

Além de causar microcefalia, o vírus zika também pode provocar a síndrome de Guillain-Barré, informou recentemente o Ministério da Saúde.

 Assim como a dengue e a febre chikungunya, o zika é transmitido pelo mosquito Aedes aegypti, que ao picar uma pessoa infectada armazena o vírus e transmite a outra pessoa ao picá-la também. Portanto, a prevenção exige cuidados individuais e coletivos.

A confirmação de que o vírus zika é o principal responsável pelo surto de microcefalia em bebês se deu após análise realizada pelo Instituto Evandro Chagas. Esse órgão do Ministério da Saúde, em Belém (PA), identificou a presença do zika em amostras de sangue e tecidos de uma bebê nascida no Ceará com microcefalia e que veio a óbito.

O governo informa que se trata de uma situação inédita na pesquisa científica mundial e que as investigações sobre a doença irão continuar. A Pasta deseja esclarecer outras questões sobre esse agente, como sua atuação no organismo humano, a infecção do feto e o período de maior vulnerabilidade para a gestante. Em análise inicial, o risco está associado aos primeiros três meses de gravidez, que é quando o cérebro do bebê está sendo formado.

“A relação do zika vírus com a microcefalia já estava sob suspeita há algum tempo, pois sabíamos que outros vírus semelhantes, como os que causam a febre amarela, a febre do Nilo Ocidental e a própria dengue se mostraram em outros momentos causadores de problemas neurológicos”, comenta o dr. Esper Kallas, professor da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo e infectologista no Hospital Sírio-Libanês.

A microcefalia é uma condição neurológica rara em que o bebê nasce com a circunferência da cabeça menor do que 33 cm — o normal é 34 cm. Esse tipo de malformação craniana influencia no desenvolvimento mental da criança, podendo provocar déficits cognitivos, visuais, auditivos e epilepsia. O grau de sequela, no entanto, varia de uma pessoa para outra. Ao longo da infância, o tamanho do cérebro pode crescer, mas ficará sempre menor do que a média.

Já a síndrome de Guillain-Barré foi epidemiologicamente associada ao zika após quatro pacientes infectados por esse vírus desenvolverem a doença. Essa síndrome ocorre, na maioria das vezes, algumas semanas após a infecção e pode afetar pessoas de qualquer idade, especialmente adultos mais velhos.

A síndrome de Guillain-Barré – nome dado em homenagem aos médicos franceses Georges Guillain e Jean Alexander Barré que ajudaram a descrever a doença em 1916 – afeta o sistema nervoso e pode provocar fraqueza muscular e paralisia, geralmente temporária, dos membros. A doença se inicia pelas pernas, podendo irradiar para o tronco, braços e face. Há risco de morte se a doença afetar os músculos respiratórios. Alguns sintomas emergenciais da síndrome de Guillain-Barré são: interrupção ou dificuldade de respiração, dificuldade para engolir, babar, desmaios, vertigens ao se levantar e perda de movimentos. Diante desses sinais, um médico deve ser procurado com urgência.

Outras causas da microcefalia e da síndrome de Guillain-Barré Além do vírus zika, a microcefalia pode ser causada, entre outros problemas na gestação, por: Malformações do sistema nervoso central / Desnutrição grave / Exposição a drogas, álcool e produtos tóxicos / Rubéola / Toxoplasmose / Citomegalovírus / Doenças genéticas, como as síndromes de Down, de Cornelia de Lange e de Edwards. “No caso do vírus zika, a hipótese é que ele atravessaria a barreira placentária e entraria no corpo da criança prejudicando a formação do cérebro”, explica o dr. Esper Kallas.

Esse tipo de malformação cerebral pode ser detectado por exames de ultrassonografia, que conseguem medir durante o período de gravidez o crânio do feto e perceber se está menor do que o esperado.

A microcefalia não tem como ser revertida com medicamentos ou tratamentos específicos. Os cuidados, geralmente, são com fisioterapia, fonoaudiologia e terapia ocupacional, visando melhorar o desenvolvimento e a qualidade de vida das pessoas afetadas. Experiências internacionais demonstram que quando esses cuidados ocorrem do 0 aos 3 anos de idade elevam as chances de sucesso.

Já a síndrome de Guillain-Barré pode ser desencadeada, entre outros problemas pelo: Campylobacter, um tipo de bactéria frequentemente encontrada em aves mal cozidas / Vírus Influenza / Vírus Epstein-Barr / HIV / Pneumonia / Cirurgia / Linfoma de Hodgkin.

O diagnóstico tem como base a avaliação clínica e neurológica do paciente e a análise laboratorial do líquido cefalorraquiano (LCR) que envolve o sistema nervoso central. Pode ser necessária também uma avaliação de eletroneuromiografia – procedimento que analisa a função do sistema nervoso periférico e muscular em um equipamento específico.

O tratamento da síndrome de Guillain-Barré é feito, geralmente, através de plasmaférese (técnica que permite filtrar o plasma do sangue do paciente) e com a administração intravenosa de imunoglobulina para impedir a ação dos anticorpos agressores. Exercícios fisioterápicos devem ser introduzidos precocemente para manter a funcionalidade dos movimentos; e medicamentos imunosupressores podem ser úteis nos quadros crônicos da doença.

Combatendo o Aedes aegypti e o vírus zika Para evitar a procriação do mosquito que pode causar a microcefalia, síndrome de Guillain-Barré e doenças como a dengue e a febre chikungunya, mantenha sempre fechadas as caixas d´água, garrafas e baldes com água. Gestantes podem usar repelentes? Sim, mas vale a pena verificar nas embalagens dos produtos se existem restrições específicas.

Entre os três principais agentes dos repelentes disponíveis no Brasil, a icaridina na concentração de 20% a 25% oferece maior duração na pele (dez horas em média de proteção). Os repelentes à base de deet, os mais encontrados nas farmácias, têm concentração de até 15%, e conferem proteção de no máximo seis horas. Gestantes devem escolher os repelentes com deet na versão para adultos (15%) e não a versão infantil, que tem apenas 6% a 9% do ativo e duração de duas horas. Já os repelentes com IR3535 são indicados para crianças de 6 meses a 2 anos de idade e exigem a reaplicação a cada duas horas, o que pode deixar a gestante desprotegida em períodos de longa exposição. Latas, copos plásticos, tampinhas de refrigerantes, pneus velhos e até folhas grandes caídas também merecem atenção, pois podem acumular água da chuva. Nos ralos, utilize sal de cozinha, água sanitária, ou mantenha-os cobertos e fechados. As calhas devem ser limpas e desentupidas e as piscinas, tratadas com cloro. Instale redes de proteção nas portas e janelas da residência ou ao redor das camas; e use repelentes para afastar os mosquitos. As gestantes, no entanto, devem procurar por produtos que possam ser usados por elas (veja ao lado). Segundo a literatura médica, mais de 80% das pessoas com zika não desenvolvem manifestações clínicas, porém quando presentes são caracterizadas por: • Manchas vermelhas na pele. • Coceira. • Febre intermitente (que vai e vem). • Dores nas articulações, como joelhos e cotovelos. • Dores musculares. • Dor de cabeça. Menos frequentemente: • Inchaços. • Dor de garganta. • Tosse. • Vômitos. • Sangue no esperma.

Todos esses sintomas geralmente desaparecem espontaneamente após três a sete dias, com exceção das dores nas articulações, que podem persistir por aproximadamente um mês. Apesar do risco de microcefalia, os efeitos da zika geralmente são menos graves que os da dengue.

O zika também não tem um tratamento específico. Segundo explica o dr. Kallas, costuma-se cuidar dos sintomas relacionados à infecção. “Geralmente, indicamos repouso, ingestão de muito líquido e, quando necessário, medicamentos analgésicos para febre”, comenta. Em caso de suspeita de zika não se deve utilizar qualquer remédio com ácido acetilsalicílico, como aspirina ou AAS, pois, tal como acontece na dengue, existe risco de desenvolvimento de hemorragias que podem agravar o estado geral do paciente.

Fonte: Dr. Esper Kallas, professor da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo e Coordenador do Núcleo de Infectologia do Hospital Sírio-Libanês / Publicado em 03/12/2015

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por Debora Black Última modificação 25/01/2016 09:23